24.7.07

infracção

A vida não me podia correr melhor. Ontem recebi uma notícia que me fez chorar baba e ranho. As mulheres têm este péssimo hábito: com grande frequência, choram. É uma grande chatice. E uma grande estupidez: se eu já sabia que aquilo ia acontecer, só posso ter chorado por isso mesmo, porque já sabia que aquilo ia acontecer. E hoje, para começar bem o dia, o cliozinho estava acompanhado por um papelinho das forças da ordem. É claro que não ia chorar por causa da merda dum papelinho, que nem sequer tem um poema impresso como os autocarros da carris.

A merda do papelinho dizia não sei quê, não sei que mais, artigo 49, 1, d) do Código da Estrada. O cliozinho não estava em cima da passadeira, mas estava dentro dos 5 metros proibidos. É o mesmo. Infracção. Eu sei que é contra a lei. Quando vi o papelinho não me deu vontade de chorar - também não exageremos -, mas deu-me para a nostalgia e pensei em todas as voltas e contra-voltas que eu e o cliozinho habitualmente damos para cumprir a lei. Nunca deixei o cliozinho em cima duma passagem de peões, mas confesso que o deixo muitas vezes dentro dos metros tabu. Agora, a divisão de trânsito pôs a minha rua no roteiro das coimas, parece que logo depois das 8, pela fresca. Daqui as uns tempos, será substituída por outra rua mais abaixo ou mais para cima. Nessa altura é muito provável que definitivamente deixe de ser uma menina bem comportada.

Não vale a pena. Também em relação ao que ontem tanto me fez chorar hesito em deixar de cumprir as regras. Mas já hesito. Estou a envelhecer, é o que é. Durante muito tempo pensei que era a juventude que se escapava das regras. Percebi, já há uns anos, que não só não era assim como era exactamente o contrário. É simultâneamente terrível e libertador avistar essa espécie de terra prometida que é o nosso fim.