1.1.10

a arte do romance

"O que é verdade é que ao passear-me sobre os downs, o outro dia, elaborei um longo ensaio - e pareceu-me, naquele momento, que muito profundo -, sobre a arte de escrever um romance, como ter a certeza de que não é mais do que uma rebentação na areia, uma evasão, ou outra coisa diferente...Agora, já não consigo recordar-me muito bem. Creio que o essencial, quando se começa um romance, não é sentir que se é capaz de escrevê-lo mas que ele está lá, do outro lado do abismo que as palavras são impotentes para transpor: que não se poderia arrancá-lo a nós mesmos, a não ser pagando o preço de uma angústia infinita. Quando me sento à secretária para escrever um artigo, sei que tenho à minha disposição uma rede de palavras que, dentro de uma hora, conseguirá prender o assunto nas suas malhas. Mas, como eu teimo em dizer, para ser bom, um romance precisa de dar a impressão, mesmo antes de ser iniciado, que nunca chegará a ser escrito: que não se pode senão vê-lo; de tal maneira que, durante nove meses, se viva no desespero e que seja apenas quando se esqueceu tudo o que se queria fazer, que o livro se torne, enfim, tolerável. Garanto-te que, antes de escritos, todos os meus livros eram de primeira água."

Virgínia Woolf
Cartas Íntimas a Vita Sackeville-West