Ela disse claramente: - Mas o que é que aquela quer? O namorado dela nem para tapete me servia.
Foi isto que eu ouvi a Empregada dizer. Como disse, ouvi perfeitamente. Não admito que ponham em dúvida a minha afirmação. Podia ter ouvido uma ou outra palavra, mas não, eu ouvi todas aquelas palavras e pela ordem citada. Não tenho dúvidas. Mas não ter dúvidas acerca do conteúdo da frase é uma coisa e não ter dúvidas acerca do seu alcance é outra. Achei um bocadinho precipitado, um bocado exagerado. Inclusive, pensei para mim que não podia ser caso para tanto. É certo que eu levo as coisas à letra e a imagem do namorado da outra a servir de tapete veio-me imediatamente à cabeça, o que não me ajuda em nada a ter uma atitude mental sólida, do género, sim, senhora, tem razão, para que é que a menina havia de querer o namorado da outra? Evidentemente só se fosse para tapete. Ou do género, não diga essas coisas, menina, que um tapete poupa muito uma casa. Pois bem, perante um cenário assim, eu sou mais pro-zen, embora muito literal. Distancio-me, relativizo, não deito achas para a fogueira, sou boazinha. E no caso, quanto mais não fosse pela circunstância de ter acabado de entrar na loja. Eu tinha acabado de entrar quando ouvi a Empregada dizer para a colega: - Mas o que é que aquela quer? O namorado dela nem para tapete me servia. Palavras não eram ditas e entra na loja uma mulher de certa idade, mas ainda muito jeitosa, que pergunta à Empregada: - Tem tapetes?