30.11.06

agente infiltrada

Café a caminho do Vale Escuro. Mulher ao telemóvel. Traços marcados de beleza perdida, tipo Ana Magnani, mas em loiro. Blusa verde, justa, elegante na medida em que uma blusa verde o pode ser. Rapidamente, e não desfazendo, uma mulher para quem se olha, e não era por ser loira, que eu às vezes também sou loira. Se falasse mais baixo, eu não a ouviria. Não estava ali para isso. Assim, não pude deixar de o fazer.

Ouve o que eu te estou a dizer (...)Ó mulher acordar? (...)Ao fim de vinte e tal anos é que se casou (...) Ó Cristina?! Atão??(...) (risos) Ó Mulher vai à luta! (...)Tá bem. (...)Ele gosta ou precisa que as pessoas mostrem apreço por ele. (...)
Exactamente! 'Tás a ver?! Afinal 'tás a perceber!(...)(longo silêncio, seguido de risos) É a minha teoria.(...) Tu tens que avaliar é a personalidade dele.(...) Eu já te disse. Mas ele quer que tu- (interrompe a frase) Esquece. Com tanta criança a passar fome. Para isso tem que ter (...) Olha vou desligar que tenho aqui outra chamada.(...) Vá beijinhos e manda lá a mensagem ao homem.

29.11.06

outono


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28.11.06

inspiração vicking

venho agora da sala. Em rodapé, numa das tvs generalistas, passa mais ou menos isto: o governo pensa adoptar um novo modelo laboral, inspirado na Dinamarca. Eu apoio. Pode ser que a malta fique toda loira.

27.11.06

o chamamento

Diante de um copinho de vinho branco - seco, como ela aprendeu a gostar - Madame Castafiori descaiu-se: quando visitou a Turquia, entrou numa mesquita e rezou. Esta experiência religiosa marcou-a ao ponto de ter acordado de madrugada para verificar se a primeira oração era mesmo ao nascer do sol, isto é, se não se tinham esquecido. Da janela do hotel esperou até ouvir o chamamento. Comoveu-se. Sabendo isto, não estranhei a pergunta de Madame Castafiori: - O que se passa com a visita do Papa à Turquia?

26.11.06

nada está escrito afinal

LEMBRA-TE
Lembra-te
que todos os momentos
que nos coroaram
todas as estradas
radiosas que abrimos
irão achando sem fim
seu ansioso lugar
seu botão de florir
o horizonte
e que dessa procura
extenuante e precisa
não teremos sinal
senão o de saber
que irá por onde fomos
um para o outro
vividos

MÁRIO CESARINY
que em Lisboa nasceu e morreu, hoje, 26 de novembro de 2006

recomeça a partida


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Recordação do dia em que a menina Ilda foi ao Estádio da Luz comemorar o aniversário.

A águia voou no início e aos 66 minutos chegou a alegria que todos procurávamos: o Benfica marcou o segundo golo. A tudo isto assistiu a menina Ilda sentada no camarote presidencial, para onde foi convidada depois de uma cartinha escrita à Direcção do clube pela colégio onde trabalhou a vida inteira. No final do jogo, a menina Ilda tirou fotografias com os craques e levou para casa um autógrafo do Rui Costa.

Foi um dia em cheio. Para ser perfeito só faltou o relato no rádio colado ao ouvido.
Quando eu fizer 85 anos levem-me ao Estádio a ver o Benfica.

Benfica - Hymn / Hino - Ser Benfiquista


Glorioso SLB

24.11.06

estrada secundária

DSCN252© fatima ribeiro2002
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23.11.06

os bons sentimentos

Madame Castafiori tocou e subiu. Eu estava a ver um episódio antigo do Serviço de Urgência, para aí da 6ªtemporada. Aliás, no Serviço de Urgência todos os episódios são antigos. Bom, dizia eu que estava a ver o Dr.Greene, que morre na 8ª temporada, a entrar no bloco com os braços no ar,empurrando as portas batentes com os cotovelos, e já com um olho num monitor de sinais vitais e outro no bisturi, com tudo ordenadamente aos gritos, quando Madame Castafiori sentando-se no sofá légere comme une plomb, pardon, comme une plume, me diz com a voz quase a traí-la,embora sem nunca perder o timbre: "Não sei como consegue ver isso, sabendo que ele já morreu. Eu não consigo". Compreendo-a. Também eu não consigo ver jogos de futebol em diferido. Não deixei, porém, de lhe dar os meus pêsamos.

22.11.06

fim de turno

Pernas esticadas. Pernas cruzadas. No comboio, os olhos do homem piscam de cansaço.

21.11.06

carrocel

A menina Ilda nos dias de jogo entra num autocarro que contorne o estádio da Luz, encosta o rádio ao ouvido e espera que no relato e no estádio se grite: Golo! Golo do Benfica! Se o autocarro se afastar muito, apanha outro e todos os que forem precisos para poder, de rádio encostado ao ouvido, também ela gritar: Golo! Golo do Benfica! A menina Ilda faz 6ªfeira 85 anos. Parabéns menina Ilda! Hoje já estamos a ganhar 3-0 ao intervalo.

19.11.06

gps

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nevoeiro inconveniente ou talvez não

Hoje de manhã ao levantar-me pensei: vou correr. Espreitei pela janela e pensei: não vou correr.

18.11.06

game over

A menina Ilda acaba de desligar o rádio.

2-1

Ao intervalo: a menina Ilda está muito arreliada.

17.11.06

os nervos da menina Ilda

A menina Ilda já está nervosa. O Benfica joga amanhã em Braga. A menina Ilda fica nervosa sempre que o Benfica joga, em Braga ou noutro sítio qualquer. Dou por mim a pensar que até parece que o Benfica joga só para a menina Ilda ficar nervosa, em Braga ou noutro sítio qualquer. Não percebo como é que me ocorrem pensamentos destes. Deve ser por estar a chover, ser sexta-feira e não me apetecer fazer o jantar embora me apeteça jantar, em Braga ou noutro sítio qualquer. Até parece que é sábado e que o Benfica joga e que a menina Ilda é obrigada a sair de casa por causa dos nervos. Mas isso é só amanhã.

16.11.06

grafismos

Às vezes bebo café numa pastelaria da Rua da Madalena que tem destacada por detrás do balcão uma folha A4 : "Hà sumo de laranja natural". Fico sempre a pensar que não é nesse dia que vou experimentar o sumo anunciado mas que um dia naturalmente que sim,vou fazê-lo, aliás, já o deveria ter feito. Melhor que técnicas de markting imbatíveis só mesmo as técnicas imbatìveis.

15.11.06

obra

DSC00414© fatima ribeiro2006
DSC00414© fatima ribeiro2006

14.11.06

Unforgettable

Entretanto, o tempo arrefeceu bué. Note-se que é a primeira vez que escrevo esta palavra. Bué.
Estive em arrumações. Numas revistas do ano 2000 encontrei pub relativa ao telemóvel da minha vida, o Siemens C35, então o novo Siemens C35, be inspired.

Um dia dia o meu siemenezinho caíu e o displey ficou ilegível, dark. Ainda o usei durante uns meses (não era difícil saber que teclas e em que ordem receber ou fazer chamadas, marcar o pin e isso bastava-me). Mas olhos que não vêem, coração que não sente e um dia outro Siemens lhe sucedeu. Be inspired.
Mas que fique claro: a minha vida nunca mais foi a mesma.

Unforgettable

blue banana

Quando saí esta manhã, precisei de escolher um novo caderno. Escolhi um azul e amarelo, comprado há anos numa loja de 300. Quando tirei o celofane que o revestia, cheirou-me a pudim. Era do caderno. Fixei-me na capa onde se podia ler "it's blue...banana". Continuava um pouco mais abaixo: "passion of the scent of fruit". Na contracapa constatei que o caderno, o cheiro a banana e os dizeres em inglês tinham vindo da China.
E fiquei a pensar se tudo isto não será um sinal.

(Mas de quê?)

12.11.06

inquietante

"Deixei Los Angeles a 3 de Janeiro e cheguei a Sydney passadas 14 horas, a 5 de Janeiro. Para mim não existirá o 4 de Janeiro"

Bill Bryson
"Na Terra dos Cangurus"

7.11.06

arrependimentos

Hoje passei por uma cervejaria chamada Fonte dos Passarinhos. Ia de eléctrico mas ainda hesitei. Um nome assim merece ser comemorado. Entrar e pedir uma imperial. Mas, como já disse, ia de eléctrico.

Talvez me venha a arrepender de não ter descido no Largo do Calvário . Hoje em dia, tudo é possível.

6.11.06

long size

Uma mulher ao telemóvel. Fumava, fumava; fumava e falava, falava, falava. Fumava tanto quanto falava. Fumava enquanto falava. Fumava e falava tanto que parecia que era o telemóvel que estava a arder.

5.11.06

manhã de outono


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no Ribatejo

Madame Castafiori trabalha no Ribatejo. Porém, não são as praças de touro que chamam a sua atenção. Quem a conhece, já adivinhou: lá como cá, o que a toca são as pastelarias.

As pastelarias ribatejanas de Madame Castafiori concentram-se na praça principal, em frente à Câmara Municipal. São três: uma especializada em suspiros, outra com um expresso muito aceitável e onde se regista o euro milhões e a terceira é daquelas que tresandam a mofo pela manhã. Qualquer uma é do género de condicionar o dia a quem lá entra.

Numa delas, um rapaz com paralisia destaca-se como figura; é filho da dona e é à volta dele que tudo gira. Os homens da terra levam-no aos fados, às patuscadas de sável nas tardes de sábado, às corridas de touros e nas garraiadas fazem-no acariciar as vacas para que ele fique com a camisa cheia de sangue.

Quando precisa de abandonar o seu posto no café para ir à casa de banho, e para isso precisa de ajuda, a mãe lança para o ar palavras que soam para além do Tejo: - Nunca mais arranjas uma mulher!

Madame Castafiori contou-me isto em Lisboa, ontem ao jantar. Eu já tinha bebido dois runs, ela um copinho de Porto. Madame Castafiori bebe tudo aos copinhos.

4.11.06

meteo


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