30.4.08

29.4.08

rosas

Hoje ao fim da tarde entrei na sala como cão por vinha vindimada, sem as ver, fixada numa procura repetida do que não encontrava nem encontrei. Não as vi. Mas senti a sua presença. O cheiro. Donde vinha aquele cheiro? Eram as rosas. Castafiori passou no domingo e deixou um ramo da roseira - gostaria de escrever brava -, do jardim da sua mãe. Foi um gesto simpático, reconheço. E recordo uns versos, e não os cito porque não os encontro - como quase tudo o que procuro de momento, desabafo -, que dizem que Deus nos deu a memória para que pudéssemos ter rosas no Inverno.

19.4.08

18.4.08

Em que é que ficamos, Michel?

Primeiro achei que os rábanos concordavam comigo; depois não; agora creio novamente que sim.
Montaigne
citado por Alain de Bottom
em "O Consolo da Filosofia"

17.4.08

Graal

Na estante à minha frente um livro de Eduardo Lourenço, "Poesia e Metafísica". Do meu lado direito, vejo "Dos Templários à nova Demanda do Graal", "Casino Royale", "Mulheres que escrevem vivem perigosamente" e uma revista que se não me engano - preciso de mudança de lentes -, diz "Barbie". Estou numa biblioteca pública. Mas sinceramente não sei o que vim aqui fazer. Estou a léguas da Poesia, da Metafísica, dos Templários e do Graal. Quero lá saber do Graal mais da vida perigosa das mulheres que escrevem, eu gosto é das irmãs Bronte, com ou sem acento, não sei onde pára o acento e também não me interessa. Para além disso, o James Bond de olhos azuis não me convence. Lembro-me logo do Paul Newman em "Hood, o Mais Selvagem Entre Mil" e todos ficam a perder. Quanto à Barbie sinceramente não tenho nada a dizer. Penso no jogo de ontem. Era aqui que eu queria chegar.

16.4.08

incipit

Madame Castafiori tem um segredo. Eu sei o que estou a dizer. Não precisarei que me lembrem que ela, mulher de apetites e pulseiras flamejantes, tem vários, e com que insuspeitas proveniências me tem surpreendido, aliás! Mas o último é o que conta, e por essa via transfigura-se em 'o' segredo. Dito isto, posso continuar por onde começei: Madame Castafiori tem um segredo.

O segredo chegou-me por inconfidência da própria: Castafiori vai de propósito a uma determinada mercearia não por causa da qualidade ou variedade ou preço ou ou mas por causa do gerente. Ah! Que bom ir a uma mercearia por causa do gerente e não apesar de, foi a minha reacção. Deve ser melhor que não cumprir um dever.

E o que distingue este gerente dos outros gerentes que existiram na vida de Castafiori ? O charme dum passado insinuado? O porte garboso de lugar tenente perdido para sempre? A voz colocada, grave, timbrada, a voz ? Mesmo uma propostazinha mais indecente, vá lá, um atrevimentozinho na hora do troco? Não. A resposta é: o verbo.

Nada mais, nada menos: o verbo, incipit - o gerente faz quadras. Ah! Castafiori, Castafiori, que saudades eu tenho dos tempos em que a sua cabeça se alimentava de fantasias americanas! Agora quadras, Castafiori! Por este andar acaba a ouvir o Tony Carreira.

15.4.08

livro de reclamações

- Fizeste lá um belo trabalho, fizeste?! Já 'tás esquecido? Vê lá tu o belo trabalho que lá fizeste que até já te esqueceste!
- 'Tás a falar de quê?
- Vê lá se te lembras, vá...que eu espero.
- É pá, 'tás a falar daquilo?
- Pois, do que é que havia de ser?
- É pá, um gajo não pode acertar sempre.